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Ensaio da Assembleia Desterrada (2020) - UDESC
Foto de Bruna Ferracioli - com Helena Maia e Djúlia Marc.
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Imagem da porta da sala de trabalho/ residência n'O Sítio. Foto de Edu Cavalcanti.
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Ensaio de Coro dos Maus Alunos (2018) UDESC
Foto de Mariana Smania.
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Práticas pedagógicas da voz

Dou aulas de vocalidade para a cena desde o ano de 2007, a partir do generoso convite de amigxs da cidade de Itajaí para propor uma prática vocal para um grupo de atrizes e atores. Agradeço imensamente a confiança que a Cia. Experimentus depositou em mim naquele momento tão incipiente da minha formação como professora. Foram muitos os cursos livres de voz que dei, mas olhando para trás, eles possuem uma certa lógica em suas propostas que contam um pouco sobre como tenho estruturado a minha prática.

 

Acho que sempre trabalhei em blocos, elegendo temas e formatos pedagógicos que dialogassem com o processo pessoal e artístico que eu estava passando em cada momento do meu percurso. Comecei com as oficinas de Investigação Vocal, até meados do ano de 2010, já anunciando que a prática a qual eu estava me propondo a “ensinar” estava, ao mesmo tempo, em processo dentro do meu próprio corpo, por isso, a palavra investigação se tornou uma chave para as práticas propostas deste período.

 

A partir do ano de 2012 a minha prática pedagógica começou a ter como o tema “O Corpo Permeável”, pois a hipótese na qual eu estava trabalhando, naquele momento, era que a prática vocal e a prática corporal deviam encontrar pontos de entrelaçamento para além de uma estrutura formal. A minha sensação interna, quando eu estava habitando aquele lugar que me interessava vocalmente, era que a intenção ideal do trabalho vocal seria tornar o corpo permeável. Essa permeabilidade é um abrir-se para a percepção de estruturas corporais de tamanho diminuto e localizadas em regiões em que se mover demanda uma aguçada percepção de si. Esse corpo permeável valia também para movimentos estéticos do corpo: cantorxs que procuravam uma maior mobilidade corporal eram convidados a embeber a voz já treinada com o movimento do corpo todo; atrizes que procuravam uma maior mobilidade vocal eram convidadas a permear o corpo treinado com uma sensação corporificada da voz. Ou seja, deixar “vazar” pelos poros uma sonoridade vocal possível, e a partir da individualidade de cada um, traçar planos técnicos, éticos e estéticos para a existência daquela voz na cena.

 

A partir do ano de 2016 passei a dar aulas regulares como professora substituta da área de Voz, na Graduação em Teatro da UDESC e tenho tido uma experiência muito valiosa na grade curricular do curso: a oportunidade de passar dois anos inteiros com uma mesma turma de alunxs, podendo guiar e acompanhar as pesquisas vocais-corporais dessas pessoas semanalmente. Aprender a pensar a longo prazo uma formação vocal não foi simples, mas após alguns anos, eu acredito que tenha amadurecido uma prática como professora e chegado a uma certa acuidade de exercícios, conceitos e temas de trabalho. Dar aulas em uma graduação na Universidade pública do Brasil é enfrentar todos os dias contradições, problemas e demandas específicas de uma instituição de ensino público. Aquela imagem romântica da artista vocal encerrada em uma sala de trabalho descobrindo o fiofósustenido foi, pouco a pouco, dando espaço para um me-tornar-mulher que procura compreender a minha posição na sociedade, no tempo histórico que me cabe e no meu espaço geográfico. Nesse sentido, ser professora e ser artista são duas existências, que hoje, não conseguem mais se desvencilhar: uma inundou a outra, de tanto eu teimar em atingir a permeabilidade das coisas.

 

Na Universidade tenho abordado diversos conteúdos, sempre procurando traçar uma linha que conjuga o trabalho corporal-vocal com as propostas da ementa de cada curso. Existem muitas variações, já que cada turma que se reúne acaba levando a prática para lugares únicos, porém, em linhas gerais tenho seguido uma espécie de fio condutor que parte da voz apenas como sonoridade, estudando os princípios do som vocal, passa pela palavra e seu peso dentro da cultura humana, flerta depois com a canção e com o canto e termina refletindo sobre como pode ser ensinar uma prática vocal para outras pessoas – já que leciono em uma Licenciatura em Teatro, que visa a formação de professorxs. Músicas e musicalidade, assim como linguagem sonora e todas as suas interfaces com outras áreas estão sempre presentes. O percurso dura dois anos e está sujeito a todo tipo de intempéries, que sempre acabam tornando impossível a mera repetição de propostas: junto com essas pessoas, semanalmente, eu aprendo a aprender sobre a minha voz e a voz dxs outrxs.

 

Nos ciclos de cursos livres, fora do contexto do ensino formal, no ano de 2019, criei uma nova temática de trabalho, que tenho chamado de “A voz como escuro do corpo”. Uma residência artística, dada em parceria com Rafael Prim Meurer (pesquisador catarinense) e com o espaço O Sítio (Fpolis/SC), reuniu cerca de vinte artistas e terapeutas corporais/vocais em uma prática guiada com essa temática. Após isso, o mesmo processo foi proposto no Festival de Música de Itajaí, com cantores e cantoras de diversos lugares. Nessa ocasião nasce uma parceria com Juliana Amaral (cantora e professora de canto paulista) e, a mesma prática foi conduzida na cidade de São Paulo no início de 2020.

 

Aí veio a pandemia e, o resto é história. Para entender melhor por onde andam minhas reflexões sobre este tema de pesquisa prático-teórico, assista a uma palestra que eu dei a convite do projeto Arte Iminente, veiculado ao PPGAC-UFOP.

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